82% dos bancos a nível mundial já está a desenvolver produtos sustentáveis

Os bancos fizeram progressos em todas as dimensões das finanças sustentáveis ao longo do último ano. A conclusão é do estudo “Práticas responsáveis na banca” da Mazars, segundo o qual se nota uma melhoria a nível mundial: a percentagem média de bancos a desenvolver uma oferta de produtos responsáveis é de 82%, o que compara com os 47% verificados no ano anterior.

O estudo, que analisa 37 bancos localizados em África, Américas, Ásia-Pacífico e Europa, olha para a forma como estas instituições gerem riscos relacionados com alterações climáticas e questões sociais e de governo mais amplas. Segundo a Mazars, o sector bancário reconhece amplamente as oportunidades e riscos relacionados com as questões da sustentabilidade.

Ainda assim, a implementação total das práticas planeadas para atingir os objectivos nesta área parece estar ainda em fase de desenvolvimento.

Por cá, a tendência é semelhante, de acordo com Luís Gaspar, managing partner da Mazars em Portugal: «Estamos perante uma transformação da cultura financeira, à medida que este tipo de preocupações se torna cada vez mais urgente. A expectativa é de que todas as organizações, particularmente aquelas que possuem um impacto significativo na economia ou uma actividade de interesse público, implementem processos que assegurem o respeito para com temas ambientais e sociais.» Segundo Luís Gaspar, isto já é visível nos clientes do sector financeiro com os quais a Mazars trabalha em Portugal.

A nível global, o estudo mostra que a maioria dos bancos avaliados:

– Promove uma cultura de sustentabilidade e aloca a responsabilidade por esta matéria a funções mais seniores. Em média, 74% dos bancos já implementou medidas que promovem uma cultura de sustentabilidade e adaptaram as estruturas de governo, em comparação com 49% no ano anterior.

Contudo, a integração de competências ESG (Environmental, Social, Governance) na selecção da composição dos governos e a medição do desempenho dos critérios ESG na definição da remuneração continuam a ser práticas pouco frequentes, aponta a Mazars;

– A maioria dos bancos em análise também assume um compromisso com objectivos de sustentabilidade SMART, com prevalência das metas relacionadas com ambiente. As metodologias para alinhamento estratégico com o Acordo de Paris ganharam força: cerca de 51% dos bancos está a testar a metodologia PACTA para alinhar suas carteiras financeiras com os objectivos do Acordo de Paris. Mas a Mazars alerta que isso ainda não se reflectiu nos compromissos oficiais dos bancos com a neutralidade climática;

– A maioria dos bancos tem práticas de gestão de risco mais avançadas para riscos climáticos do que para riscos ESG mais amplos – com a maioria dos recursos de análise de cenários climáticos construídos. No entanto, continua a ser um desafio medir o impacto financeiro das alterações climáticas sobre os bancos devido à falta de informações quantitativas. Apenas 22% dos bancos fornece dados quantitativos sobre a materialidade dos riscos climáticos, de acordo com a mesma análise;

– Os bancos abrangidos pelo estudo revelam ainda standards de relatórios de sustentabilidade, principalmente com foco em objetivos climáticos, sendo as recomendações do CDP e TCFD as mais comuns. Em termos de métricas e metas, as emissões de GEE são as mais reportadas. Um dos principais desafios dos relatórios continua a ser as emissões Scope 3 GHG, já que apenas 11% dos bancos divulga informação relacionada com as suas actividades de financiamento;

– Por fim, a Mazars indica que a maior dos bancos tem uma oferta empresarial mais madura do que a oferta para clientes particulares e que os produtos climáticos e ambientais são mais prevalentes do que produtos económicos e sociais. Por exemplo, 78% dos bancos desenvolveu uma oferta de green bonds, enquanto apenas 32% desenvolveu produtos verdes para clientes particulares. Comparar a oferta dos bancos continua a ser um desafio devido à falta de estruturas de relatórios padronizadas.

InExecutive Digest