Bancos brilham pouco na sustentabilidade

Um estudo da Mazars indica que nenhum banco a nível europeu - depois de avaliados 30 - cumpre critérios de sustentabilidade de forma a poder ser considerado “excecional”. Ainda assim, é visível algum empenho, e a consultora acredita que a trajetória será ascendente.

A consultora e auditora Mazars avaliou 30 bancos europeus quanto às práticas de sustentabilidade e concluiu que nenhum atinge um patamar da excelência, cumprindo mais de 90% dos critérios considerados. A maior parte das instituições - 57% - não consegue ainda cumprir com a maioria dos critérios. Contudo, a Mazars acredita que o desempenho de sustentabilidade tem tendência a melhorar nos próximos anos. Em Portugal, o Negócios falou com alguns dos maiores bancos para perceber o caminho que por aqui se está a traçar, e que é em muito semelhante ao que a consultora deteta nos pares europeus.

Ainda faltam incentivos

A Mazars começa por avaliar até que ponto a sustentabilidade faz parte da cultura da empresa. Embora a maioria dos bancos "afirmem estar a incorporar a sustentabilidade, isto nem sempre se reflete na sua estratégia corporativa, na governança e políticas". A ilustrar esta aceção está a estatística de que apenas 13% dos bancos possuem incentivos financeiros relacionados com sustentabilidade ao nível da administração ou dos seus executivos de topo.
Em Portugal, o Santander afirma que uma das componentes da parte variável da remuneração são os resultados alcançados nos compromissos de banca responsável. Na Caixa Geral de Depósitos, a sustentabilidade conta para a avaliação dos membros da administração e dos restantes colaboradores. O BPI e o BCP não possuem estas práticas, mas o BCP prevê incluir estes critérios na avaliação, à semelhança da CGD, já em 2021. Todos estes bancos afirmam ter estratégias desenhadas no que toca à sustentabilidade e reportam o respetivo desempenho através de relatórios.
A Mazars sugere como boa prática constituir um comité a nível do "board" que se dedique às matérias de sustentabilidade e revela que não chegam a um terço os bancos que definem objetivos SMART para esta área, ou seja, específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e com prazos definidos.

Financiamento em causa

Apenas 43% dos bancos avaliados pela Mazars integram estes fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) na sua análise de risco, utilizando métodos qualitativos e quantitativos. A consultora aconselha um reforço nos métodos quantitativos, que são menos comuns.
Em Portugal, a Caixa Geral de Depósitos afirma que o impacto socioambiental é considerado pela direção de rating na avaliação qualitativa de fatores de pontuação na hora de conceder crédito, como é o caso do perfil de negócio, quadro político jurídico ou ambiente regulatório. Os Princípios CGD de Exclusão e Limitação Setorial estabelecem uma lista de princípios subjacentes a atividades e projetos que são restringidos ou excluídos da sua política de crédito. Também é com base nos Princípios Éticos e Boas Práticas Empresariais que o banco procura mitigar o risco junto dos fornecedores contratados.

O Santander garante que na análise de risco global há também uma avaliação do risco ambiental, e que atualiza com "muita regularidade" as políticas setoriais que excluem, restringem ou obrigam a uma análise mais aprofundada antes do financiamento. Como setores sensíveis a instituição enumera a defesa, energia, mineração, metais e "soft commodities" (matérias-primas agrícolas como o óleo de palma, soja e madeira). O BPI refere ter como fatores de exclusão atividades de elevado impacto ambiental, o trabalho infantil, trabalhos forçados ou participação em abusos dos direitos humanos, assim como o incumprimento das normas em vigor em matéria de saúde e segurança no trabalho. O BCP diz ter em curso um processo de aprofundamento da inclusão de critérios ESG na política de gestão de risco.

Ambiente monopoliza ESG

No contexto europeu, a maioria dos bancos oferece produtos ambientalmente responsáveis, mas falha em desenvolver uma oferta que atenda a problemas socioeconómicos na mesma extensão, aponta a Mazars. Em Portugal, o BPI, Santander e Caixa Geral de Depósitos respeitam esta tendência. No caso do BCP, a predominância entre os produtos responsáveis recai sobre o social, com linhas de crédito bonificadas para entidades da economia social ou empresas criadas por desempregados, por exemplo.

Um interesse comum

A sustentabilidade não é relevante apenas pelas obrigações que existem perante acionistas e stakeholders. "Um banco que cumpra os critérios de sustentabilidade tem melhor reputação, e naturalmente terá melhor desempenho, porque atrairá clientes que querem trabalhar com um banco que cumpra", salienta Duarte Pitta Ferraz, professor catedrático de Governança e Banca na Nova SBE. "Hoje há uma maior consciencialização sobre este tema, mas há ainda um caminho a percorrer na forma como os conselhos de administração tratam do tema", acrescenta. Apesar de, no que toca à governança, os bancos estarem sujeitos "a padrões de exigência muito altos" impostos pelos supervisores, os temas do ambiente e sociais não são "tão transparentes", avalia. Aqui, aconselha-se a lógica de "comply or explain": quando não se cumpre um critério, explica-se o porquê e avança-se o prazo em que se pensa cumpri-lo.

InJornal de Negócios