Para mais de metade das empresas ‘compliance’ vai ‘apertar’ ainda mais no futuro, revela estudo

A maioria das responsáveis pela compliance das empresas considera que este é uma forma de criar reputação e não tanto um problema por resolver, revela o estudo “Unlocking trust: why global compliance is on the business agenda”, realizado a 892 profissionais seniores em organizações multinacionais de 25 países da consultora internacional Mazars. Mais de metade das empresas considera que no futuro os requisitos de ‘compliance’ sejam ainda mais rigorosos.

Os responsáveis pelo compliance tendem a encará-lo como um fator de criação de oportunidades e não apenas como uma obrigação: 58% concordam com esta visão. As oportunidades que o compliance apresenta são significativas: aumentar a confiança, reforçar a segurança e construir reputação.

A recompensa para o cumprimento dos requisitos de compliance é valiosa: 65% sentem que compliance positivo aumenta a confiança do investidor, 64% dizem que aumenta a confiança do cliente/consumidor; 61% afirmam que ajuda a construir uma reputação favorável.

Esta evolução da perceção do complicance é explicada por Alice Vitória Brito, Chief Compliance Officer da Mazars em Portugal, uma vez que “o objetivo principal do compliance é garantir o cumprimento por parte das entidades, das exigências legislativas e regulamentares no ambiente corporativo em que atuam, bem como das regras e códigos de conduta internos das organizações.

A visão primária e restrita do compliance, como ferramenta para prevenção de incumprimentos e consequente prejuízo (reputacional e/ou financeiro) e mitigação de riscos, evoluiu. No presente contexto empresarial, um compliance robusto é cada vez mais assumido como uma oportunidade e ferramenta para reforço da confiança de investidores e clientes, contribuindo para a construção de reputação da entidade e, a nível mais global, para o desenvolvimento de um mercado justo.”

“Isso mesmo é patente no nível crescente de envolvimento de dirigentes de topo e de investimento realizado pelas organizações. O principal desafio é gerir e acompanhar um ambiente empresarial e regulatório em mudança acelerada e cada vez mais exigente, requerendo constante adaptação, reapreciação dos riscos e sua abordagem”, conclui.

As empresas alocam senioridade ao esforço de compliance

Em 3/4 (75%) das empresas os executivos de topo e membros de conselhos de administração abordam o compliance com uma regularidade trimestral ou ainda mais elevada (39% mensalmente). Este envolvimento faz, normalmente, parte de uma revisão pré-programada de riscos (50%), mas também é frequentemente inserida na procura por novos insights ou oportunidades (44%).

Expetativa de mais da metade das empresas é que os requisitos de compliance se tornem mais difíceis de cumprir no futuro

De forma global, as empresas confirmam que a atenção e recursos dedicados ao compliance conduzem a resultados positivos: 82% estão seguras que se encontram a cumprir de forma bem-sucedida os requisitos atuais e que vão continuar a cumpri-los no futuro. Contudo, mais de metade (51%) esperam que o compliance se torne mais exigente nos próximos cinco anos. Este está a tornar-se mais complexo, a legislação está a mudar rapidamente e a pandemia Covid-19 vai continuar a causar disrupção. 38% dos inquiridos apontam a complexidade crescente, a mesma percentagem identifica os impactos da pandemia e 36% destacam a nova regulação como os mais significativos desafios ao compliance nos próximos cinco anos. O Brexit também representa alguma disrupção ao compliance mas não figura no topo da lista de desafios (23% a nível global referem-no como um desafio relevante).

Líderes sabem que falhar acarreta riscos significativos

Os responsáveis pelo compliance conhecem os riscos significativos de fracassar: 77% afirmam que a sua empresa enfrentou desafios relacionados com compliance nas áreas de contabilidade e fiscalidade nos últimos cinco anos. As suas consequências passam, geralmente, por danos à reputação, ações disciplinares internas e multas.

Gestores devem investir em tecnologia, mas também precisam de potenciar conhecimento e competências

Os principais investimentos planeados para compliance são em tecnologia (particularmente machine learning/inteligência artificial) e competências: 45% afirmam que nova tecnologia de compliance contabilística e fiscal será um dos drivers mais significativos para melhorar a performance nas suas funções nos próximos cinco anos. No entanto, a falta de conhecimento e competências na sua equipa é prejudicial: dois em cinco inquiridos (42%) consideram que este é um grande obstáculo para que se alcancem os objetivos de compliance.

Ampla consistência regional com algumas exceções

O estudo mostra que regiões e países apresentam respostas semelhantes, mas podem ser identificadas algumas exceções: entre todas as regiões analisadas, 50% dos líderes na América Latina encaram, com mais força, este tema como uma oportunidade (65% vs 58%) e reveem os seus problemas de compliance mensalmente ou mais frequentemente, 11 pontos acima da média do estudo.

Os inquiridos nos EUA apontam como o maior desafio ao compliance o aumento do escrutínio por parte de reguladores – que não figura entre os três principais desafios para os restantes entrevistados. Além disso, os responsáveis nas regiões da África – Médio Oriente, América Latina e EUA mostraram-se especialmente desafiados pela necessidade de aumentar os recursos associados ao compliance no último ano, comparativamente à média do estudo (78%, 71% e 78%, respetivamente, comparado com uma média de 60%).

InExecutive Digest