Gerir o talento é o grande desafio

As auditoras dizem-se dotadas de estratégias para captar e reter a nova geração que está a chegar ao mercado de trabalho com outras ideias sobre equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Eis os trunfos da KPMG, PwC e Mazars, que, em conjunto, recrutaram só este ano cerca de 900 pessoas, praticamente todas jovens.

O talento jovem está a entrar na auditoria a um ritmo acelerado. Três exemplos. A PwC, uma das ‘Big Four’ que opera em Portugal, admitiu 514 pessoas em 2021, das quais 90% são sub-30. A KPMG, outra das ‘Big Four’, abriu as portas, no mesmo período, a 300, igualmente quase todos jovens. A Mazars, empresa de média dimensão, recrutou 64 pessoas, com uma média de idades de 27 anos.

Nascidas na proximidade do novo milénio, num mundo que se torna global e cada vez mais digitalizado, as novas gerações têm outras ideias sobre como equilibrar a carreira e a vida pessoal. Que trunfos estão a usar as auditoras para as atrair e manter?

“A Mazars é uma business school profissional” – responde Verónica Santos, Human Resources Senior da empresa em Portugal, ao Jornal Económico. “A nossa própria Mazars University tem por objetivo desenvolver competências técnicas e de liderança, ao mesmo tempo que fornece todas as ferramentas para um novo colaborador enfrentar o futuro e todas as fases do seu percurso profissional. Logo numa fase inicial este terá uma exposição internacional, devido ao facto de estarmos presentes em mais de 90 países”. A empresa considera-se ela própria uma incubadora de talentos, o que permite, segundo Verónica Santos, que “todas as nossas pessoas demonstrem rapidamente o seu melhor e o progresso que obtêm”. Ao dispor é-lhes colocada uma grande variedade de experiências: clientes de prestígio, diversidade de sectores e diferentes tipos de missões. “Escolher a Mazars significa ter uma posição de controlo e projectar a carreira pretendida desde o início”.

Em Portugal, a Mazars conta com 207 pessoas no ativo, destacando-se no lote das empresas de média dimensão com maior dinâmica recrutadora no corrente ano. Verónica Santos refere que o desenvolvimento profissional, e até certo ponto pessoal, está cada vez menos alicerçado nos formatos tradicionais de formação, assentando “na disponibilização de uma oferta alargada de conteúdos relacionados com competências técnicas, mas também pessoais e interpessoais, com acompanhamento cada vez mais próximo das necessidades e ambições individuais”.

O Leading Mazars, implementado pela firma e promovido por uma consultora especializada em programas de Desenvolvimento em Liderança, é uma peça fundamental da estratégia. Teve início em 2021 e envolve todos os partners, associate partners, senior managers e managers da Mazars em Portugal. Este programa estender-se-á também a todos os seniors ao longo do próximo ano. O investimento em liderança conta, para já, com ações de reflexão peer to peer, networking entre gestores e troca de melhores práticas, formação/treino/inspiração através de ferramentas de gestão de pessoas, acompanhamento individual a todos os participantes, reflexão pessoal e autodesenvolvimento através da utilização de ferramentas de self awareness, entre outras iniciativas numa ótica de capacitação de talento.

O EXEMPLO DAS ‘BIG FOUR’

A KPMG é uma das maiores firmas de auditoria do mundo e também em Portugal. Conta no país com 1300 colaboradores e praticamente todos os 300 admitidos já em 2021 são jovens. “A denominada geração Z está a chegar ao mercado de trabalho, uma geração que surge com novas ideias e aspirações, na qual as preocupações com o equilíbrio entre a carreira e a vida pessoal são notórias, nomeadamente a saúde e bem estar mental que colocam um foco especial nas abordagens criativas e flexíveis ao novo modelo de trabalho”, afirma Paulo Paixão, Head of Audit da KPMG, ao Jornal Económico. São provavelmente a primeira geração tech native, o que, destaca, “vem incentivar a mentalidade empreendedora da KPMG e confirmar a mais-valia dos investimentos que temos vindo a fazer nos últimos anos”. Entre estes investimentos, destaque para a criação de Audit Innovation Hubs e a implementação da KPMG Clara, uma plataforma de auditoria inteligente, alavancada em capacidade preditiva e assente nas mais recentes soluções cognitivas e de inteligência artificial.

O talento é o maior ativo de qualquer organização, KPMG incluída. Diz o Head of Audit: “a retenção é inevitavelmente um dos maiores desafios das organizações. Atualmente, apesar da remuneração continuar a ser o um fator relevante de retenção, não é do nosso ponto de vista o fator principal”. Os principais argumentos, especifica Paulo Paixão, são a cultura e os valores da KPMG, que mobilizam as pessoas em torno de um propósito comum de inspirar confiança e promover a mudança. “Para atingirmos o nosso propósito potenciamos as oportunidades de desenvolvimento e formação, encorajamos uma vida equilibrada e flexível, num ambiente jovem, que incentiva a criatividade e a inovação, dentro de uma equipa inclusiva e diversificada, em que as pessoas sentem o seu contributo diário para a sua equipa, para os clientes e para a sociedade em geral”, salienta.

Com 1600 colaboradores em Portugal, a PwC, outra das ‘Big Four’ mundiais, é uma das maiores e mais dinâmicas auditoras a operar cá. Só em 2021 admitiu 514 pessoas, das quais cerca de 90% são jovens . “Um dos aspectos que é bastante valorizado atualmente é a flexibilidade e, na PwC, temos trabalhado no sentido de garantir que as nossas pessoas sintam que esse tema é importante e temos demonstrado isso em programas como, o FlexWork, FlexFriday ou até mesmo no Flexdress. Nos últimos anos, temos recebido milhares de candidaturas, o que demonstra que a PwC é claramente uma organização de eleição para o talento e reconhecida por saber gerir bem os seus colaboradores”, explica Nuno Simões, Human Capital Director da PwC, ao Jornal Económico. A nova estratégia global da empresa combina “criatividade, experiência e inovação tecnológica” com vista à “obtenção de resultados sustentados, construindo confiança”. E para atingir este objetivo, temos de ser uma organização que atrai as melhores pessoas”, salienta.

A PwC aposta na marca forte, construída em grande parte devido às qualidades das pessoas que nela trabalham. “Estamos cientes de que para manter uma marca forte temos de ter a capacidade de reter o nosso talento”, afirma o Human Capital Director. Nesse sentido e, além da remuneração e de uma série de benefícios materiais, a PwC tem em vigor várias iniciativas que visam promover o bem-estar do colaborador, como, por exemplo, o programa Be Well, Work Well, que consiste num investimento na promoção do bem-estar, ajudando as pessoas a sentirem-se empoderadas e suportadas, mostrando a relevância de colocarem o seu bem-estar em primeiro lugar e garantindo que estão no seu melhor em casa, no trabalho e em qualquer outro lado”.

O foco no bem-estar — destaca Nuno Simões — “permite-nos sermos a melhor versão de nós próprios, tendo um impacto positivo em tudo e todos os que nos rodeiam. Outro aspecto que nos distingue é a aposta na formação, no desenvolvimento e na evolução na carreira das nossas pessoas”.

As pessoas são, de facto, o principal ativo de uma empresa ou organização e a auditoria não foge à regra.

A cultura e os valores da KPMG figuram entre os principais argumentos de mobilização das pessoas em torno do propósito comum de inspirar confiança e promover a mudança.

InO Jornal Económico

Document

Jornal-Económico-Gerir-o-talento-é-o-grande-desafio.pdf