Olhos postos num futuro cada vez mais incerto

O sector da consultoria está habituado a guiar os seus clientes por mares atribulados, mas a ressurgência da inflação num período de guerra na Europa a seguir a uma pandemia renova os desafios numa área onde o trabalho à distância veio para ficar.

A Mazars identifica como tendências principais na área de consultoria precisamente o ambiente, a transformação digital, a tecnologia e a sustentabilidade como os principais focos dos empresários por todo o mundo, olhando para os resultados da análise da empresa, que consultou mais de 1000 executivos em 39 países. “Perto de dois terços dos líderes (62%) esperam transformar a sua estratégia de sustentabilidade nos próximos anos, sendo este número superado pelos que preveem apostar na transformação tecnológica (68%)”, começa por referir Rui Lavado, Head of Consulting da Mazars em Portugal, destacando que “estas duas áreas apresentam um crescimento de 18% face a 2020, esperando-se assim que este investimento continue a crescer”.

Esta adoção gradual das questões tecnológica, ambiental e de sustentabilidade como prioritárias já se vinha verificando antes da pandemia, mas os anos da Covid-19 colocaram na linha da frente estas áreas, um efeito para o qual contribuiu decisivamente o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Este procura promover uma reafirmação da economia europeia no pós-pandemia como um ecossistema de inovação, com o objetivo de ser atingida uma União Europeia neutra em emissões de gases com efeitos poluentes até 2050, promovendo e liderando, a nível mundial, em conceitos como economia circular.

A aplicação dos fundos europeus será um dos principais desafios para 2022 no sector da consultoria, dada a importância destes programas para o tecido produtivo, mas também pela necessidade de guiar as empresas nos processos de candidatura e na sua implementação. O processo foi tornado mais complicado pela invasão russa da Ucrânia, que fez disparar o preço de várias matérias-primas e agravou uma crise logística que fez disparar a inflação ainda no final do ano passado, gerando preocupação com a adequação dos concursos abertos numa altura em que a economia mundial era significativamente diferente.

“A Mazars tem estado envolvida em várias iniciativas no âmbito do PRR”, afirma Rui Lavado, que sente, apoiado pelo estudo da Mazars, “que os líderes estão confiantes apesar dos desafios, pelo que acreditamos que continuarão a realizar os investimentos necessários à economia”.

“Descobrimos um grande sentido de confiança e resiliência nos líderes das empresas através do barómetro realizado no final de 2021 pela Mazars”, aponta, apontando “dois motivos que influenciam estes resultados: o natural alívio por o pior da pandemia já ter passado; e a resiliência que, entretanto, os negócios ganharam nestes tempos únicos”.“Sofrendo o choque e saindo dele mais fortes”, resume.

Carlos Valleré Oliveira, Managing Partner da LBC, refere o contexto de incerteza como um dos destaques no sector de consultoria (e, por extensão, no resto da economia) durante este ano. Face a tal, “as consultoras têm de ajudar [as empresas] a serem cada vez mais sustentadas em dados, adotarem estruturas flexíveis e ágeis, funcionarem com processos automatizados e focados fortemente na satisfação do cliente final e estarem integradas em ecossistemas competitivos”. E estas serão melhorias que terão de vir para ficar, visto que a expectativa é que continue a aumentar a “imprevisibilidade do mercado, devido à frequência de ocorrência de crises, novas tecnologias disruptivas e novos concorrentes com naturezas diversas”.

Neste cenário, Rui Lavado argumenta que “só ouvindo os nossos clientes e respondendo com eficácia podemos apoiar os seus desafios e atingir os objetivos”, sublinhando a importância da comunicação com o cliente numa altura de rápida e quase constante mudança de perspetivas de curto-prazo.

Novo paradigma na retenção de talento

Além do enquadramento macroeconómico desafiante, o sector viveu uma profunda alteração nas preferências dos seus trabalhadores com o modelo de trabalho à distância a que obrigou a Covid-19 Muitas vezes vista como uma área tradicional na forma de organizar, a consultoria dá agora o exemplo no que toca ao trabalho híbrido, com os ganhos de eficiência que este confere e a satisfação acrescida dos colaboradores.

A necessidade de limitar contactos obrigou a alterar a forma de trabalhar, não só na consultoria em específico, mas nos serviços em geral, levando mesmo Rui Lavado a considerar que o trabalho híbrido se tornou no “novo normal em empresas prestadoras de serviços”.

“O nosso barómetro mostra, novamente, que a adoção do teletrabalho foi das maiores consequências da pandemia. O regime de trabalho não presencial ou misto e flexível, veio para ficar. Nas empresas prestadoras de serviços é o novo normal. É fundamental na atração e retenção de talento colocar a flexibilidade e as várias hipóteses ‘em cima da mesa’”, afirma, ilustrando:

“Um dos impulsos mais relevantes da tecnologia na pandemia foi o corte epistemológico nas noções de tempo e espaço: deixámos de fazer deslocações para o escritório, entre cidades e entre países, para fazermos reuniões virtuais a partir das nossas casas. No entanto, esta aceleração ao nível da tecnologia também nos tornou mais próximos e na Mazars temo-nos adaptado rapidamente para que esta alteração do paradigma que antes conhecíamos seja hoje uma vantagem, quer internamente, quer junto dos nossos clientes.”

Assim, o trabalho à distância passou rapidamente de um desafio para as empresas, que se viram obrigadas a, quase de um dia para o outro, mover operações complexas de um escritório físico para os vários domicílios dos trabalhadores, para uma vantagem competitiva e um fator de atração e retenção de talento, um dos aspetos mais importantes de um sector como a consultoria.

Para os representantes das consultoras, os ganhos surgem de dois lados: por um, a operação torna-se mais expedita e eficiente, cortando-se tempos mortos e de espera e agilizando a comunicação, entre outros fatores; por outro, os colaboradores reportam maior satisfação com o trabalho, permitindo-se mais tempo para o cada vez mais importante equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

“O modelo híbrido tornou-se dominante na organização do trabalho e aumentou a produtividade. O talento exige esta flexibilidade. O cliente passou a aceitar interações virtuais mais facilmente, enquanto os escritórios adaptaram-se para serem espaços de reflexão em equipa, convívio e reforço dos valores da empresa”, argumenta Carlos Valleré Oliveira, Managing Partner da LBC, para quem aspetos como este são fulcrais para reter os melhores trabalhadores num novo paradigma em que “a empresa não entrevista e escolhe o talento, é o talento que ‘entrevista’ e escolhe a empresa”.

 62% dos líderes esperam transformar a sua estratégia de sustentabilidade nos próximos anos e 68% quer apostar na transição digital

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