“Private equity”: siga o dinheiro até à economia real

A pandemia deverá acelerar as necessidades de recapitalização de muitos negócios, uma situação que deverá criar boas oportunidades de investimento para os fundos de capital de risco. Saiba como seguir o dinheiro até à economia real.

O ambiente de baixas taxas de juro tem levado os investidores a procurar alternativas de investimento fora dos mercados tradicionais. Num momento marcado pelos esforços para apoiar a recuperação da pandemia, os especialistas acreditam que os produtos que investem na economia real, em particular os fundos de capital de risco, apresentam boas oportunidades. Vem aí uma nova era de investimento nos mercados privados. 
 
Entrar em empresas em dificuldades financeiras ou que procuram capital para financiar o seu crescimento ou expansão geográfica, para depois desinvestir, é o foco de investimento do “private equity”. E num momento marcado pela escassez de liquidez devido ao impacto da pandemia nos negócios, são muitas as companhias que procuram este tipo de investidores com músculo financeiro para as apoiar nesta fase. 
 
“A nível global, os governos pretendem lançar um conjunto de programas de recuperação da atividade económica e, em simultâneo, impulsionar medidas para a descarbonização da economia e modernização de infraestruturas. Uma vez que a pandemia provocou um aumento generalizado dos níveis de dívida dos governos, a participação dos investidores privados é essencial para a concretização dessas medidas”, explica Carlos Almeida. Para o diretor de investimentos do Banco Best, “uma vez que as taxas de juro - apesar do recente movimento - continuam em níveis baixos, os investidores privados procuram alternativas para a geração de retorno das suas carteiras”. 
 
“Os investidores estão sedentos por rentabilidades que não encontram nos mercados tradicionais. Cada vez há mais investidores a entrar nos mercados privados”, afirma André Themudo, acrescentando que “há oportunidades em temas como o ‘private equity1 e infraestrutura”. “Cada vez mais há uma desintermediação. O banco sai de cena e entram novos ‘players’”, remata o responsável da BlackRock para Portugal, ao Negócios. 
 
No mercado nacional, a IMGA foi a última gestora a lançar um fundo de “private equity” para investirem áreas com potencial de crescimento na economia. O “FCR PVCM Private Equity Fund”, no montante de 20 milhões de euros, vai investir nos segmentos de turismo, mobilidade e inovação em Portugal. Destinado a investidores qualificados, o fundo tem um período de sete anos. “Tendo em conta o atual contexto de taxas de juro extremamente baixas, ou mesmo negativas, o fundo procura obter remunerações mais atrativas do que as alternativas tradicionais para os seus investidores alvo”, explica a gestora. 
 
Já o BPI refere que “estamos a estudar parcerias para poder oferecer soluções de ‘private equity”’, antecipando um aumento do capital levantado através deste tipo de fundos, “não só pelo investimento na recuperação da economia, mas também pelo benefício fiscal que acarretam para as empresas ao abrigo do programaSIFIDE II (Sistemade Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II) e que foi prolongado para 2021”, acrescenta o banco. 
 
Apesar do otimismo para esta atividade, historicamente, e tal como acontece com o fundo da IMGA, este é um tipo de investimento destinado a investidores qualificados e profissionais. “Devido a ser um mercado com informações menos frequentes, este mercado estava reservado a grandes investidores institucionais”, explica André Themudo, acrescentando ainda que questões de regulação “dificultavam o acesso a privados”. Também Carlos Almeida nota que “o acesso aos investidores é condicionado, vez que [estes investimentos] têm características que não são compatíveis com a generalidade dos objetivos e necessidades da maioria dos investidores”. Assim, “este tipo de investimentos está acessível para investidores profissionais e com carteiras de investimento elevadas”. 
 
Apesar de o investidor comum não ter capacidade de investir diretamente em fundos de “private equity”, há formas de ganharexposição a este mercado. Em 2015 foram criados os ELTIF (European Long-Tenn InvestmentFunds), fundos de investimento alternativos de longo prazo que permitem o investimento a estratégias de “private equity”. 
 
Os investidores podem ainda privilegiar a aposta a outros fundos alternativos, mais líquidos [nos ELTIF o capital fica alocado durante o período do fundo], ou através da exposição a fundos ETF, que seguem empresas deste setor. ¦ 
 
Os fundos europeus de investimento de longo prazo (ELTIF) foram aprovados em 2015 na Europa e são um veículo que permite aos investidores de retalho ganhar exposição a um segmento ao qual antes lhe estava vedada a participação: o capital de risco. Trata-se de produtos que, ainda assim, exigem um montante inicial de investimento e a disponibilidade para manter o capital aplicado durante o período do fundo. Numa primeira fase, o fundo recolhe o capital, depois a equipa de gestão investe e, após alguns anos, começa a distribuir rendimento, à medida que vai desinvestindo de alguns negócios. Em Portugal, está disponível o BlackRock Private Equity Opportunities ELTIF.
 
Os fundos de investimento alternativos oferecem a possibilidade aos investidores de ganhar exposição a ativos distintos dos comercializados nos mercados tradicionais, como as ações ou obrigações. Estes produtos privilegiam a aposta em ativos como “private equity”, infraestruturas, investimentos em mercados privados ouimobiliário. Os investimentos alternativos procuram garantir uma descorrelação dos mercados tradicionais e, ao contrário destes, trata-se de ativos que podem ser menos líquidos e com características direcionadas para investidores com maior experiência e um perfil mais dinâmico. Os investidores não devem investir mais de 7 a 12% do património nestas estratégias.
 
Investir nas grandes empresas de “private equity” cotadas é uma das alternativas para ganhar exposição às mais-valias potenciais geradas pelo setor. Nomes como a KKRou a 3i são exemplos de grandes empresas de “private equity”. “No investimento indireto, a exposição pode ser realizada através de fundos de investimento ou ETF que têm como política o investimento em ações de empresas que se dedicam a essas áreas de negócio e encontram-se negociadas em bolsa”, explica Carlos Almeida do Best, dando como exemplo o ETF iShares Listed Private Eq ETF USD Dist EUR, “onde entre as maiores posições podemos ver a Brookfield, Blackstone, KKR ou a 3i”.
 
Nove em cada dez querem investir 
 
A maioria dos investidores está otimista para 2021 e mostra-se disponível para procurar novas oportunidades de investimento. Segundo um estudo da Mazars, realizado junto investidores institucionais, nove em cada dez estão à procura de novos negócios para investir.

Cerca de 91% dos inquiridos pela Mazars, no final de 2020 dizem estar “muito abertos ao negócio” e à procura de oportunidades para investir, segundo conclui o estudo “Covid-19 e o mundo dos Private Equity: otimismo num ambiente incerto”. Esta percentagem compara com os 74% que se mostravam disponíveis para investir no mesmo inquérito realizado pela consultora, em junho do ano passado. 
 
Ainda segundo o mesmo estudo, os investidores mostram-se, de forma geral, otimistas e focados em novas oportunidades, e confortáveis para concluir negócios remotamente. Os inquiridos preveem que as receitas desçam de forma menos severa nos próximos 12 meses, com uma recuperação em forma de U e com atrasos mais curtos nas suas estratégias de saída do que o previsto anteriormente.

O estudo feiro pela Mazars foi realizado em dezembro de 2020, junto de investidores que fazem parte da comunidade de Private Equity e Private Debt, com localização principal na Europa, Ásia, América do Norte e América do Sul, e surge na sequência de um primeiro inquérito feito em junho.

InJornal de Negócios

Document

Covid-19 e o mundo dos Private Equity_​Jornal de Negócios