Reformas têm de prosseguir no setor da auditoria

A auditoria está sujeita a exigências crescentes e a questão central da atividade reside na confiança. O mercado está em mudança, sendo necessário prosseguir com as reformas no sentido da diversidade e de uma cada vez maior competitividade, referiu à “Vida Económica” José Rebouta, partner da Mazars Portugal

Vida Económica - Qual a sua perspetiva da atual realidade da auditoria? 
 
José Rebouta - Os revisores oficiais de contas e as sociedades de revisores oficiais de contas estão incumbidos de proceder à revisão legal das contas das entidades, por determinação do código das sociedades comerciais, estatutária ou voluntária, para aumentar o nível de confiança nas demonstrações financeiras anuais e consolidadas dessas entidades. A função de interesse público da revisão legal de contas significa que um vasto conjunto de pessoas e instituições confia na qualidade do trabalho dos revisores ou das sociedades. A boa qualidade da auditoria contribui para o funcionamento ordenado dos mercados, melhorando a integridade e a eficiência das demonstrações financeiras. Os revisores oficiais de contas desempenham, assim, um papel social particularmente importante. As perspetivas e as expectativas associadas continuarão exigentes. O tema da confiança continuará central. O posicionamento do auditor, as ferramentas e recursos à sua disposição e o robustecer dos modelos utilizados serão decisivos e continuarão a ser zonas de investimento e de regulação. 
 
VE - Quais os principais problemas que se colocam? 
 
JR -A tecnologia está a transformar o papel dos auditores e a dar origem a processos e oportunidades de intervenção. Neste contexto, devem prosseguir as reformas da auditoria, estimuladas pela necessidade de criar um mercado com mais perenidade e diversidade, menor concentração e competitividade acrescida. 
 
Não podem ser da equação a exposição corporativa que fizeram e fazem manchetes e que para um utilizador de auditoria conduz a questões sobre a sua função e objetivos exatos. Neste cenário estão mapeados desafios acrescidos e mudança. Mas continuar a ouvir o mercado retiradas pública continua a ser fundamental: o que esperam as empresas da auditoria? A suposição de que querem apenas uma auditoria financeira tradicional parece já não corresponder à realidade, como revelam 96% de entrevistados, num estudo recente realizado pela Mazars (“O futuro da auditoria: visão do mercado mitos, realidades e caminhos a seguir”). Estes valorizam, sobretudo, o facto de os seus auditores poderem vir a ampliar a sua oferta de serviços para além da auditoria financeira e assim responder a novas prioridades e necessidades de atividade. 
 
VE - Que aspetos têm de passar por uma reforma? 
 
JR- Tal como definido pela norma comunitária relativa à revisão legal de contas das entidades de interesse público, existem objetivos definidos a concretizar, como clarificar e definir melhor o papel da revisão legal de contas de entidades de interesse público, melhorar as informações que o ROC ou a SROC prestam à entidade auditada, aos investidores ea outras partes interessadas, melhorar os canais de comunicação entre os auditores e as autoridades de supervisão das entidades de interesse público e prevenir quaisquer conflitos de interesses decorrentes da prestação de serviços distintos da auditoria a entidades de interesse público. Importa mitigar o risco de eventuais conflitos de interesses que resultem do atual sistema em que a «entidade auditada escolhe e paga ao auditor», ou a ameaça de familiaridade, bem como facilitar a mudança ea escolha do revisor oficial de contas ou da sociedade de revisores oficiais de contas às entidades de interesse público. Por outro lado, é essencial alargar a escolha eo modelo de escolha à disposição das entidades de interesse público e a todas as entidades que o desejem - enquanto opção, não obrigação —, bem como aumentar a eficácia, independência e coerência da regulamentação e supervisão dos ROC e SROC que prestam serviços de revisão legal de contas a entidades de interesse público, nomeadamente no que respeita à cooperação a nível da União. 
 
Transparência e confiança

VE - As questões da transparência e da confiança assumem, portanto, uma importância crescente. 
 
JR - No caminho já traçado, o valor da revisão legal de contas para a entidade auditada aumentará consideravelmente se a comunicação entre o revisor oficial de contas ou a sociedade de revisores oficiais de contas, por um lado, e o comité de auditoria, por outro lado, for reforçada. 
 
A fim de aumentar a confiança nos revisores e nas sociedades de revisores que procedem à revisão legal de contas, e a responsabilidade desses revisores e sociedades, é importante aumentar a informação apresentada no relatório de transparência por parte dos mesmos. E igualmente relevante reforçar o papel do comité de auditoria na seleção de um novo revisor ou de uma nova sociedade para que a assembleia geral de acionistas, sócios ou equivalentes da entidade auditada possam tomar decisões mais fundamentadas. Por último, cumpre prever a opção - saliente-se opção, não a obrigação - pela jointaudit. A nomeação de mais do que um revisor ou sociedade reforçariao ceticismo profissional e contribuiria para melhorar a qualidade da auditoria. Essa medida, combinada com a presença de sociedades de revisores oficiais de contas de menores dimensões no mercado de auditoria, facilitaria o desenvolvimento da capacidade dessas sociedades, alargando assim a escolha à disposição do mercado. 
 
VE - A imagem da auditoria está a melhorar ou ainda há um longo caminho a percorrer? 
 
JR - O mercado de prestação de serviços de revisão legal de contas evolui ao longo do tempo e é uma profissão e função com história. Contribui e cumpre uma função para o mercado. Por conseguinte, é necessário que as autoridades competentes monitorizem a evolução do mercado, em especial no que respeita aos riscos decorrentes de uma elevada concentração, inclusive em setores específicos, e ao desempenho dos comités de auditoria. A transparência das atividades das autoridades competentes deverá contribuir para aumentar a confiança dos investidores e dos consumidores. É importante definir regras pormenorizadas a fim de assegurar que as revisões legais de contas tenham a qualidade adequada e sejam realizadas por revisores oficiais de contas e sociedades de revisores oficiais de contas que estejam sujeitos a requisitos rigorosos. Uma abordagem regulamentar comum deverá reforçar a integridade, independência, objetividade, responsabilidade, transparência e fiabilidade dos ROC e SROC, contribuindo para a qualidade da revisão legal de contas e, dessa forma, para o bom funcionamento do mercado, garantindo, simultaneamente, um elevado nível de proteção dos consumidores e dos investidores. Para que tal aconteça, cada entidade- empresa de auditoria, regulador, supervisor e utilizador de auditoria - tem de fazer o seu papel e contribuir ativamente para este objetivo comum. 
 
Valorizar a expressão "auditoria" 
 
VE - Até que ponto as auditorias são, efetivamente, necessárias? 
 
JR - A confiança é um fator determinante para o desenvolvimento das economias modernas e quem acompanha o mercado e vive a experiência empresarial sabe como é essencial na construção das relações entre agentes económicos. A compreensão pelo mercado da expressão “auditoria” tem de ser imediata e valorizada. A análise e disponibilização de informação financeira tem de ter em mente o seu destinatário final: o utilizador da informação financeira, com uma formação e informação medianas, para quem temos de ser claros e objetivos. 
 
VE -O mercado não está demasiado concentrado em quatro grandes empresas? 
 
JR - Vemos valor em promover a diversidade. Para garantir o bom funcionamento dos mercados de capitais e do mercado da confiança é necessário que exista uma capacidade de auditoria sustentável e um mercado de prestação de serviços de revisão legal de contas concorrencial, com uma variedade suficiente de revisores oficiais de contas e de sociedades de revisores oficiais de contas habilitados a realizar a revisão legal de contas de entidades de interesse público e de outras entidades que o manifestem. E, assim, relevante equacionar mecanismos que permitam a entrada de novos operadores no mercado da auditoria e que estimulem a concorrência entre um maior número de empresas de auditoria de diferentes contextos culturais e técnicos, o que resultará numa maior inovação e numa melhor resposta às necessidades do mercado. Além disso, tal permitirá às empresas de menores dimensões entrar numa dinâmica de investimentos, tanto do ponto de vista da cobertura geográfica como do conhecimento especializado por setor ou dimensão. O conceito de “Big 6”é um passo. 

José Rebouta assume que a boa qualidade da auditoria contribui para o funcionamento ordenado dos mercados.

InVida Económica

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