Setor bancário reconhece oportunidades e riscos relacionados com as questões da sustentabilidade, indica estudo

A Mazars, empresa internacional de fiscalidade, auditoria e consultoria, já lançou a edição de 2021 do seu estudo de benchmarking “Práticas responsáveis na banca”. O estudo global avalia as práticas de sustentabilidade em 37 dos maiores bancos mundiais localizados na Europa, África, Américas e Ásia-Pacífico.

A análise demonstra que “o setor bancário reconhece amplamente as oportunidades e riscos relacionados com as questões da sustentabilidade” mas, a “implementação total de práticas projetadas para atingir objetivos sustentáveis está ainda em fase de desenvolvimento”, lê-se no comunicado da Mazars.

Luís Gaspar, Managing Partner da Mazars em Portugal, confirma que esta é uma tendência também verificada no mercado nacional: “Estamos perante uma transformação da cultura financeira, à medida que este tipo de preocupações se torna cada vez mais urgente. A expectativa é que todas as organizações, particularmente aquelas que possuem um impacto significativo na economia ou uma atividade de interesse público, implementem processos que assegurem o respeito para com temas ambientais e sociais. Tal é visível nos clientes do setor financeiro com os quais trabalhamos em Portugal e torna-se algo a considera quando equacionamos as suas necessidades e as soluções a serem disponibilizadas”.

Os bancos têm feito avanços significativos na sustentabilidade

A análise global mostra que a maioria dos bancos avaliados:

  • Promovem uma cultura de sustentabilidade e alocam a responsabilidade por esta matéria a funções mais seniores. Em média, 74% dos bancos já implementaram medidas que promovem uma cultura de sustentabilidade e adaptaram as estruturas de governo, em comparação com 49% no ano anterior. No entanto, a integração de competências ESG (Environmental, Social, Governance) na seleção da composição dos governos e a medição do desempenho dos critérios ESG na definição da remuneração continuam a ser práticas pouco frequentes.
  • Assumem um compromisso com objetivos de sustentabilidade SMART, com prevalência das metas relacionadas com ambiente. As metodologias para alinhamento estratégico com o Acordo de Paris ganharam força: cerca de 51% dos bancos estão a testar a metodologia PACTA para alinhar suas carteiras financeiras com os objetivos do Acordo de Paris. No entanto, isso ainda não se refletiu nos compromissos oficiais dos bancos com a neutralidade climática.
  • Têm práticas de gestão de risco mais avançadas para riscos climáticos do que para riscos ESG mais amplos – com a maioria dos recursos de análise de cenários climáticos construídos. No entanto, continua a ser um desafio medir o impacto financeiro das alterações climáticas sobre os bancos devido à falta de informações quantitativas. Apenas 22% dos bancos fornecem dados quantitativos sobre a materialidade dos riscos climáticos.
  • Implementam standards de relatórios de sustentabilidade, principalmente com foco em objetivos climáticos, sendo as recomendações do CDP e TCFD as mais comuns. Em termos de métricas e metas, as emissões de GEE são as mais reportadas. Um dos principais desafios dos relatórios continua a ser as emissões Scope 3 GHG; apenas 11% dos bancos divulgam informação relacionada com as suas atividades de financiamento.
  • Têm uma oferta empresarial mais madura do que a oferta para clientes particulares, e os produtos climáticos e ambientais são mais prevalentes do que produtos económicos e sociais. Por exemplo, 78% dos bancos desenvolveram uma oferta de green bonds, enquanto apenas 32% desenvolveram produtos verdes para clientes particulares. Comparar a oferta dos bancos continua a ser um desafio devido à falta de estruturas de relatórios padronizadas.

Leila Kamdem-Fotso, partner da Mazars, constata que “não há dúvida que os bancos estão a tornar as suas práticas mais sustentáveis e que têm vindo a fazer progressos desde o nosso primeiro estudo. Os resultados são encorajadores, mas revelam também algum trabalho por realizar”. Para a responsável, “os bancos precisam de implementar práticas relevantes, particularmente as relacionadas com a gestão dos riscos climáticos e divulgações, isto se querem cumprir com os objetivos de sustentabilidade. Uma forma de fazer isso é melhorar as metodologias e quantificar melhor os impactos relacionados ao clima incorridos nos seus relatórios”.

Melhorias em todas as áreas: 2021 vs 2020

Comparando os resultados recentes com o estudo de 2020, os bancos fizeram progressos relacionados com as finanças sustentáveis em todas as dimensões analisadas:

  • A percentagem média de bancos que desenvolveram uma oferta de produtos responsáveis é agora de 82%, em comparação com 47% no ano anterior.
  • Os bancos que promoveram uma cultura de sustentabilidade e atualizaram as suas estruturas de governo em conformidade aumentou para metade (51%), embora haja um aumento semelhante (45%) na percentagem de bancos que alinharam as suas divulgações com os padrões de relatórios ESG.
  • Existem desfasamentos claros em áreas como a incorporação de critérios ESG e climáticos em estruturas de gestão de risco e implementação de estratégias de sustentabilidade (aumento de 22% e 20%, respetivamente).

In Ambiente Magazine