Revisão analítica e o processo de auditoria

A revisão analítica é um dos procedimentos de maior relevância no processo de auditoria, permitindo que o auditor faça uma avaliação sobre a coerência da informação financeira e, por esta via, reforce a evidência de auditoria obtida.

O processo de revisão analítica é também uma forma de interação entre o auditor e o órgão de gestão, constituindo uma oportunidade para este último, ser positivamente desafiado e ao mesmo tempo avaliar, como pode vir a ser desafiado pelos diferentes stakeholders.

O envolvimento do órgão de gestão neste processo, faz assim com que a finalidade da revisão analítica não se encerre com a satisfação dos objetivos imediatos do auditor, configurando também um veículo de criação de valor para as entidades auditadas.

O que é a revisão analítica?

A revisão analítica, ou os procedimentos analíticos, são apreciações da informação financeira através da análise de relações plausíveis não só entre dados financeiros como não financeiros.

Os procedimentos analíticos incluem a consideração de comparações da informação financeira de uma entidade auditada, como por exemplo, informação comparável de exercícios anteriores, as expetativas do auditor criadas com base nas diferentes fontes de informação similar do setor de atividade e informação prospetiva, como por exemplo, forecast de tesouraria, orçamentos ou planos de negócios.

Tem como finalidade ajudar o auditor na definição da natureza, profundidade e extensão dos procedimentos a executar, constituindo em si uma fonte de evidência/prova de auditoria. Este tipo de procedimentos, contribuem para a realização de auditorias mais eficazes e eficientes.

Fases dos procedimentos analíticos

Os procedimentos analíticos estão presentes ao longo de todo o processo de auditoria, podendo repartir-se em três fases:

  • Revisão analítica preliminar – na fase de planeamento e, para um melhor risk assessment da entidade e adequada definição da abordagem de auditoria, a revisão analítica preliminar às demonstrações financeiras é uma ferramenta indispensável e de extrema relevância para o auditor. Permite concluir sobre a evolução da atividade, antecipando eventuais transações excecionais que tenham ocorrido, ganhos / perdas de contratos relevantes e os seus impactos no risco de auditoria, bem como criar expectativas para o fecho do exercício. Permite também avaliar a evolução da tesouraria da sociedade e antecipar eventuais riscos de continuidade de negócio.
  • Procedimentos substantivos analíticos – estes procedimentos são usados quando o auditor considera que o uso de procedimentos analíticos pode ser mais eficaz ou eficiente do que os testes de detalhe na redução do risco de distorções relevantes para um nível aceitavelmente baixo.
  • Revisão analítica final – a revisão analítica final, torna-se também ela uma ferramenta essencial para o auditor avaliar a consistência da informação obtida no decorrer do processo de auditoria. A revisão analítica final permite ao auditor corroborar as suas conclusões e avaliar a consistência da informação obtida.

Para a execução adequada de procedimentos analíticos é necessário o auditor obter um entendimento adequado do negócio e do desenvolvimento da atividade da entidade bem como do mercado onde a mesma está inserida. Quanto maior conhecimento o auditor tiver do negócio e do mercado da entidade, melhor compreensão terá das demonstrações financeiras e das variações ocorridas face ao ano anterior. Por outro lado, esse conhecimento permitirá também corroborar as informações obtidas junto da gestão ao longo do processo de auditoria. Neste processo, o auditor deve avaliar a fiabilidade da informação disponível - fonte, comparabilidade e a natureza e relevância da informação, bem como os controlos implementados pela entidade sobre a sua preparação.

Desafios que decorrem do contexto pandémico

A pandemia que vivemos no último ano, teve (e continua a ter) impactos profundos em diversos sectores de atividade. Muitas empresas viram as suas atividades serem suspensas ou reduzidas significativamente, o que levou à otimização da estrutura de pessoal, renegociação de contratos de financiamento, etc. Também é verdade, que em contraciclo, outros setores foram positivamente influenciados por esta pandemia, tendo tido desempenhos bastante positivos.

A justificação para grande parte dos impactos vertidos nas Demonstrações Financeiras, por simplificação, tenderá a ser consequência dos efeitos da pandemia, no entanto nem sempre será assim, e o auditor deverá manter o ceticismo profissional na análise da informação e o seu enquadramento com o contexto económico.

Em suma, esta pandemia desde o seu início afetou (e afeta ainda) positiva ou negativamente todos os setores de atividade, sendo uma situação que requer atenção especial por parte do auditor na execução do seu trabalho.

O nível adequado de ceticismo profissional ao longo de todo o processo de auditoria, é condição essencial do trabalho do auditor, ganhando maior relevância quando executa procedimentos analíticos. Torna-se agora ainda mais importante incrementar o fator inteligência no processo de Auditoria, o qual deverá potenciar a eficácia dos processos de obtenção de prova, com benefício para as entidades auditadas e para os stakeholders.