Qualidade e prazos de entrega são sempre críticos

No geral, as empresas mais pequenas dão mais importância ao preço dos serviços, enquanto as maiores privilegiam os resultados. Também há diferenças entre o sector público e o privado.

Os desafios dos clientes acabam por ser também os desafios dos consultores e há algo que nunca muda. “A qualidade e os prazos de entrega são sempre críticos na prestação de serviços”, diz Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, ao Jornal Económico.

Num contexto pós-pandémico e com a guerra da Rússia na Ucrânia a prolongar-se no tempo, olhamos para o actual momento do mercado e do impacto que a pandemia está a ter na economia.

Carlos Valleré Oliveira, Managing Partner da LBC, traça a seguinte radiografia: “O mercado acumula efeitos conjugados da pandemia, da instabilidade inflacionária, energética e económica e da implementação do PRR. Por um lado, o sector público está a contratar muito mais serviços do que em anos anteriores, muitas vezes com pouco critério. Por outro lado, o sector privado é mais conservador na contratação de serviços externos e cada vez mais criterioso no processo de contratação”. O responsável da LBC acrescenta outra variável à equação: os prestadores de serviço e as dificuldades que enfrentam ao nível dos recursos humanos qualificados.

A pandemia teve um efeito devastador sobre a atividade económica. Rui Lavado, Head of Consulting da Mazars, salienta a “incerteza vivida pelas empresas quanto às suas perspetivas futuras e de evolução” e a “quebra do investimento’’, assim como o adiamento de iniciativas de transformação. “O foco passou a incidir na mitigação dos efeitos da pandemia e na adaptação dos processos produtivos e de negócio a uma nova realidade”, afirma.

Na perspetiva de Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, além do tema da saúde pública, a pandemia evidenciou questões que já existindo se tornaram críticas para as empresas e que exigem às consultoras “uma maior transversalidade e diversidade nas competências” a apresentar ao cliente. “A adequação e combinação de recursos da área económico-financeira, com diferentes especialidades de engenharia tem sido crítica para fazer face a exigências cada vez mais distintas e abrangentes que a pandemia revelou”, exemplifica.

Do ponto de vista das consultoras, Bernardo Maciel explica: “Por um lado, temos de ser capazes de nos envolvermos na reflexão estratégica e no apoio à tomada de decisão dos gestores, sempre com uma visão holística da organização e do mercado e, por outro, há que ter capacidade e compromisso na execução dos diferentes projetos”. São abordagens cada vez mais globais e de médio-longo prazo, mas com necessidade de atuação no curto prazo, salienta.

Hoje, segundo Bernardo Maciel, as empresas dedicam tempo e contratam serviços focados na restruturação financeira, no planeamento e na monitorização dos principais rácios e indicadores económico-financeiros. Também o crescimento passou a ter mais caminhos e variáveis a considerar.

Explica: “A procura ou reforço da competitividade e a forma de a colocar no topo das agendas dos gestores reforçou a importância deste trabalho continuado junto das administrações das empresas, sempre com a garantia de apoio, monitorização e acompanhamento na implementação e execução das estratégias ou projetos de investimento definidos. Esta realidade, potenciada nos últimos anos pelo impacto da pandemia, reforçou ainda mais a nossa presença e proximidade no dia-a-dia das empresas”.

Quem leva a melhor

Nos dias de hoje, como encaram as empresas variáveis como preço e prazo. Os “clientes” dão mais importância ao preço e são mais exigentes nos prazos? - perguntámos.

“Depende”, responde o Head of Consulting da Mazars, Rui Lavado. “As empresas mais pequenas ou aquelas que enfrentam maiores desafios no plano económico e financeiro dão uma elevada importância ao preço dos serviços, ainda que mantenham elevados níveis de exigência quanto ao cumprimento de prazos — explica — As empresas maiores ou mais imunes à conjuntura e a constrangimentos de ordem económica e financeira privilegiam os resultados, a qualidade dos serviços prestados e a eficácia das iniciativas de transformação, surgindo depois o preço”.

Rui Lavado salienta o elevado nível de exigência quanto aos prazos, mas lembra algo a que estamos há muito habituados em Portugal: o arrastar no tempo do arranque e a concretização de iniciativas estruturantes. Acontecem, justifica, “não tanto por atrasos em sede de execução de projetos, mas por elevada burocracia e prolongamento de processos de decisão”.

Carlos Valleré Oliveira, Managing Partner da LBC, coloca em cima da mesa duas diferentes perspectivas, a privada e a pública, que se revelam muito diferentes na resposta. “No sector público, devido à pressão de execução do PRR, a generalização de concursos baseados exclusivamente no preço vai resultar num crescendo de soluções e implementações medíocres na administração pública que vão penalizar o país durante muito anos, ao mesmo tempo que empurra o mercado prestador de serviço para uma oferta de baixo valor e de menor qualidade. O que também terá impactos de longo prazo”.

E no privado? “Acima do preço e dos prazos, a conjugação de inflação alta, cadeias de valor instáveis, crise energética e desaceleração económica, leva os clientes a procurarem prestadores de serviço que tenham impacto efetivo na sua performance e os apoiem num processo de transição digital sustentável, em vez de consultoria de PowerPoint e baseada em consultores sem experiência”, explica Carlos Valleré Oliveira.

Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, introduz um elemento novo no debate: a crescente sofisticação da gestão nas PME está a criar novas necessidades. “Nos últimos anos — explica — temos assistido ao impacto na atividade das empresas, de forma global e transversal, de um conjunto de fatores que obrigam a uma monitorização e tomadas de decisão em permanência. Em consequência, a necessidade de apoio contínuo é cada vez mais valorizada e crítica no momento da decisão dos clientes de consultoria, embora os prazos de execução, sobretudo no âmbito de decisões estratégicas e de investimento, continuem a ser valorizados”.

Segundo o gestor, a volatilidade de temas-chave para a gestão das empresas, como preço e disponibilidade de matérias-primas, alteração nas cadeias de fornecimento, inflação, taxas de juro e alterações cambiais recentes está a colocar mais pressão nas equipas de consultoria. Problema a que, em concreto, a sua empresa, a Yunit está a responder, garantindo ao cliente um serviço que vai “da reflexão estratégica até à implementação da mudança”, apoiado em equipas multidisciplinares.

InJornal Económico

Economico1
Economico2
Economico3

Contacte-nos